sábado, 31 de dezembro de 2011
2011/2012.
sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
30 de dezembro de 2028 - Redenção
Vou pra cozinha preparar o café da manhã e me dou por feliz: mais um ano consegui tudo que quis. A gravidez pesa meu corpo e isso me deixa desconfortavelmente alegre. As crianças colocam verde no prato diariamente sem que eu precise me descabelar pra isso, temos um jardim com girassóis e um pé de amora no quintal. Um cachorro amarelo como os meus olhos, segundo a minha caçula. Uma casa simples e confortável pra onde meus herdeiros podem voltar de suas escolas com pedagogia Waldorf e eu, do meu emprego nas clínicas que tanto sonhei. Viajamos duas vezes por ano, acampamos mensalmente e vejo pôr do sol no mar duas vezes por semana enquanto espero e assisto às aulas de natação infantil na praia. Tenho uma estante de livros enorme na sala e me orgulho por ver meu exemplo seguido com livros de contos de fada, por maior questão que eu faça de explicar a eles que o final nem sempre é feliz. Recebo abraços ao acordar e juras de amor antes de dormir. Mensagens transbordando afeto durante o dia me são comuns assim como sorrisos que vejo nas fotografias espalhadas pela casa. A consciência religiosa da minha família é alta, sem sermos beata, na medida. Respiro fundo tomada pela certeza de felicidade que vem das pequenas coisas e volto pra cama pelo corredor conferindo se as crianças acordaram.
Procurando certidões de nascimento pra viagem, encontro uma foto sua 3x4 que roubei na sua carteira a quase 10 anos atrás. Tem quase 3 anos da última vez que te vi, na fila do banco em uma cidade de praia que eu jamais esperei te encontrar. Confesso que fiquei balançada. Confesso que me segurei nas mãozinhas gordinhas entrelaçadas na minha e tirei força delas. Mas foi mais tranqüilo do que imaginei, superei você com a vida dos meus sonhos. Não vou dizer que não penso mais em você, não vou dizer que quando te vi de mãos dadas com seu filhinho, a cara da criança que eu sonhei, não balancei, tampouco que não quis te abraçar e fazer o tempo parar, feito anos atrás quando nos despedíamos na rodoviária da cidades pra onde você se mudava esporadicamente. É bom sentir que a saudade não mais assola meu peito, é bom voltar pra casa sabendo que alguém me espera, que não vou precisar mudar minha vida inteira daqui a seis meses, que a angústia no meu peito não é grande ao ponto de fazer meu coração doer diariamente. Ontem antes de deitar vi suas atualizações em uma rede social, fotos da sua família com seus pais no Natal e sorri saudosamente lembrando de todo mundo que jurou que eu estaria ali nos dias de hoje, sorri lembrando das últimas noticias suas que me deram contando da sua merecida realização profissional que tanto me fazia temer o futuro que achei que teríamos. Mas é ano novo e prefiro não pensar nisso, em você, no que eu quis, no que não quisemos e lembrar apenas dos motivos que me fizeram ir embora de vez, é neles que me apego. É ano novo e meus filhos me esperam pra viajar. É ano novo e, pensando bem, a gente seria bom juntos, mas somos melhores separados, ouvi dizer que muito amor estraga qualquer casamento. É ano novo e as mochilas estão prontas, as barracas no carro e o camping reservado. É ano novo de uma vida inteira sem a gente pela frente.
quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
Encontro.
segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
Redenção
Não vá dizer meu nome se ela também fizer piada com tudo que você fala. Se ela insistir em te encher de cuidados enquanto você tenta dizer que não precisa deles ou decidir ficar acordada vigiando seu sono durante uma crise alérgica caso você piore feito eu fazia sem que você soubesse, não vá dizer meu nome.
Não vá dizer meu nome se ela imitar meu despertar pra te mandar mensagem no celular de madrugada quando souber que você tem que, contrariadamente, acordar cedo demais. Se ela ouvir suas reclamações pacientemente ou imitar suas gírias e trejeitos pra te fazer rir esquecendo as preocupações, por favor, não vá dizer meu nome.
Não vá dizer meu nome se ela procurar seu abraço durante a noite ou se te acordar beijando suas costas acreditando que a cabeça dela nasceu pra recostar ali feito a minha certeza. Caso ela perca horas analisando seus pêlos loiros, curvas, sabores e expressões e ainda, se você perceber que ela, como eu, perde toda a vergonhas, todos os receios, todos os medos quando seu corpo adentra o dela, não vá dizer meu nome. Mesmo que ela confesse que você é o cara por quem ela mais sentiu tesão na vida ou que certas coisas ela só faz com você, coisa que eu nunca tive coragem de dizer, não se confunda, não vá dizer meu nome.
Não vá dizer meu nome caso ela, ao invés de dar chilique, te chame num canto e diga que, embora não goste de alguma atitude sua entende que é seu jeito, se ela tiver assunto e paciência pra virar a madrugada conversando e assistindo vídeos idiotas na internet sem roupa, olha lá! Se ela discutir o mesmo assunto contigo um milhão de vezes e sempre encontrar novos argumentos pra rebater seus novos conceitos, se deitar no seu peito sorrindo dizendo que não aguenta mais conversar sobre isso e cinco minutos depois recomeçar a falar, não vá dizer meu nome.
Não vá dizer meu nome se ela também acreditar em tudo que você diz, se ela te pedir que fique mais um pouco, que desenhe mais um tempinho o corpo dela com a sua língua. Se ela resolver esperar meses por um abraço teu ignorando qualquer marmanjo que insiste em ligar ou ir até a sua casa pedir uma chance enquanto você nem sonha com essa possibilidade, não vá dizer meu nome, presta atenção!
Não vá dizer meu nome se ela confessar saudade ainda quando estão juntos, se ela começar a escrever diariamente sobre você como maneira de te guardar pra sempre, se tentar te fazer entender que você pode ir e viver qualquer coisa assim como ela, justamente por ter certeza que os caminhos de vocês vão sempre se cruzar por mais surreal que você ache que isso é, "faça qualquer coisa". Tente recordar um funk que te façar gargalhar, "morda o lábio forte, planeje o dia de amanhã, futuque uma pereba, feche os olhos e tape os ouvidos e grite "lá,lá,lá" ou tente me esquecer. Só não vá dizer meu nome.
(Baseado no texto "Não vá dizer meu nome" do lindo do Gabito Nunes).
domingo, 25 de dezembro de 2011
Diz! ...
sábado, 24 de dezembro de 2011
Natal.
Redenção - Noite Feliz
– Com amor.
(folgo em dizer que depois da realização dessa carta, eu voltei a acreditar em Papai Noel)
quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
Redenção
domingo, 18 de dezembro de 2011
Redenção
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
Ilusão
Melhor
A gente ri e sorri , se olha, se cuida e se sabe, nada além disso como costumam dizer. Já tivemos aquela fase de confundir amizade com paixão e de ter vontades inesperadas de “quem se ama prematuramente, mas evoluímos pra esse amor que nem sei explicar. Ele me conta das meninas, eu conto dos caras. Eu acho engraçado quando ele fala "ah, enjoei, ela era meio sem assunto". Ele também ri quando eu digo "ah, ele não entendeu nada" e olho pra ele sabendo que ele também não entende, mas pelo menos não vai embora. Ou vai, mas sempre volta. Não temos ciúmes e nem posse porque somos pra sempre. Ainda que ele case, more na Bósnia, são quase dezoito anos. Somos pra sempre”. Eu conto pra ele de tudo que eu ainda quero ser e ele me mostra tudo que eu já sou, ele acha que já sabe tudo sobre a vida e eu sempre insisto em mostrar quem ninguém sabe de nada. Sempre damos um jeito de nos surpreender, mesmo com o silêncio, que quando é compartilhado, nunca é constrangedor, sabemos respeitar a razão, a emoção e o sentir do outro.
São dezoito anos. Foi pra ele quem eu contei do meu primeiro amor, com ele que eu desci as escadas de uma instituição religiosa de bunda, com ele que assisti aula em baixo da mesa, foi ele que implicou com meu aparelho nos dentes enquanto eu reclamava do excesso de gel no cabelo dele. Foi ele que tocou uma música no violão pra mim pela primeira vez, foi pra ele que escrevi meu primeiro texto. Foi com ele que eu chorei meu primeiro grande tombo (o de verdade e o psicológico), foi ele que eu fiz questão que aprovasse meus namorados e que estivesse sempre comigo, foi ele que me disse tantos nãos e me contrariou tanto e me fez crescer tanto. São dezoito anos e ele continua tendo paciência quando eu chego falando “fiz besteira”, continua me ligando pra contar como foi o dia, continua do meu lado mesmo morando do outro lado do país. Ele já cantou pra eu dormir enquanto eu tinha medo e eu já perdi uma festa pra falar com ele no telefone quando ele tava mal. Ele me emprestou o coração dele quando o meu tava quebrado e eu emprestei o meu colo quando ele não tinha mais forças. E ele me diz que ainda acredita que o amor de verdade vai bater na porta dele enquanto eu reclamo que não consigo nem andar de mão dada com o cara que eu gosto na rua e por isso eu sofro. E de sofrer assim, me dou conta que meu melhor amigo é meu único amor. “O único que consegui. Porque ele sempre volta. E meu coração fica calmo”. E ele vai comigo nas festas da minha turma de faculdade e “todos meus amigos novos morrem de rir porque ele é naturalmente engraçado e gente boa e sabe todos os assuntos do mundo. E todo mundo adora meu melhor amigo. E eu amo ele. E sempre acabamos suspirando aliviados” por sabermos que não importa o que aconteça, a gente sempre tem pra onde voltar, sempre sorrimos aliviados por saber que alguém no mundo acha graça da mesma idiotice, ou faz a mesma dancinha ridícula, ou o mesmo comentário idiota. E ele é o meu maior presente a cada nova fase, a cada novo ano, a cada nova vida, ele é o meu maior presente. São dezoito anos, somos pra sempre.
texto adaptado de "o amor" - Tati Bernardi (http://www.tatibernardi.com.br/blog/post.jsp?idPost=51)
domingo, 11 de dezembro de 2011
Prêmio de consolação
sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
Amores da vida
Rastros
quarta-feira, 7 de dezembro de 2011
Entre.
terça-feira, 6 de dezembro de 2011
Amor demais.
domingo, 4 de dezembro de 2011
Escrevo 2
Redenção
sábado, 3 de dezembro de 2011
Redenção - parênteses
Estrelas.
quinta-feira, 1 de dezembro de 2011
Carta aberta para minha mãe
Foi outro dia, lendo um texto pra um seminário na faculdade, que me peguei pensando em você. Claro, o texto falava sobre a relação mãe e filha, dissertava que quando a menina brinca de boneca na infância, é uma forma de imitar as coisas boas que a mãe faz com ela e, em contrapartida, critica o comportamento da mãe tratando a boneca da maneira que gostaria que a mãe lhe tratasse. Bem, eu brinquei de boneca até os 10 anos (sou da época em que as crianças tinham infância de verdade) e, lendo isso, me dei conta de que foi justamente quando comecei a escrever cartas por vontade própria, foi que deixei a boneca de lado.
terça-feira, 29 de novembro de 2011
Redenção - o re-final
Não é por você me mandar ouvir sertanejos bregas ou vídeos idiotas. Nem porque ouvir sua voz faz qualquer dor sumir; ou porque não importa o tamanho da minha raiva, você sempre vai me fazer sorrir. Não é pelo tamanho do buraco que a sua falta deixou no meu peito ou pela conversa no telefone a 5 minutos atrás quando eu sentia como se tivesse faltando uma parte de mim, tamanha a contradição de ouvir sua voz e te dizer adeus ao mesmo tempo. Tampouco por você ser a primeira pessoa de quem eu escrevo sem precisar exagerar nas palavras (pelo contrário, controlo-as, pra que elas não transpareçam ainda mais do que sinto), ou pelo pavor que a incerteza de um reencontro me causa. Não é pelo desejo de tele transporte pra qualquer lugar em que você esteja agora, ou pela minha auto-avaliação histórico-amorosa que me faz perceber a novidade do que sinto. É, muito provavelmente, pelo despertar interno, pela iminência do amor bombeando em minhas veias sem que eu queira admitir ou ao menos tenha me dado conta. É o medo de que tudo isso que eu sinto agora se perca em nossa memória e, com o passar dos anos, não nos recordemos mais da sua falta de mira com armas em barracas de urso de parques de diversões ou dos seus “muitos beijos” dados pessoalmente e não só por mensagem no celular todo noite antes de pegar no sono. Se agora me martirizo escrevendo sobre algo que tanto me dói, é na tentativa de que a gente não se perca, é na tentativa de te guarda em mim, na minha vida, nas minhas páginas, nos meus sonhos. É a tentativa de que um dia a gente abra mão do orgulho, da teimosia e dê espaço pra um possível reencontro, pra não ter necessidade, nunca mais, de dizer adeus.
domingo, 27 de novembro de 2011
Redenção - o descomeço
segunda-feira, 21 de novembro de 2011
Tatuagem
Reino da Alegria
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
Irmã do meio
quarta-feira, 16 de novembro de 2011
Redenção - o final
Acho estranho esse sentimento surgir tão rápido mesmo longe, mesmo sem convivência, mesmo sendo contra tudo que eu sempre disse e acreditei. Eu não forcei nada, sabe, um belo dia acordei sem querer imaginar minha vida sem você e foi então que os planos inusitados e as vontades repentinamente incontroláveis começaram a surgir. Era bom compartilhar meu dia, minha vida, meu melhor sentimento com você. Entretanto, não é sempre que te sinto querendo fazê-lo. Pensei muitas vezes em sumir da sua vida, aí você me ligava com a voz mais mansa que consegue fazer me dizendo da saudade que sente, da vontade que tem da minha presença. É tão confuso ter ao lado alguém que não sei se está ao meu lado.
Sei que não fizemos promessas, nunca poderemos cobrar momentos ou sentimentos, mas justamente por você nunca me cobrar nada, eu te dei tudo: toda confiança, toda lealdade, todo afeto que cabia em mim. Eu fui sua namorada mesmo sem nunca termos namorado, eu fui sua melhor amiga mesmo não dividindo com você todos os meus segredos.
A verdade é que não sei viver de dúvidas, de insegurança, preciso de estabilidade em algum lugar nessa instabilidade que sou e sei ainda mais que você não pode me dar isso agora e nem eu a você. Portanto, eu quero pedir um novo reencontro num futuro, uma nova dança de formatura, um novo filme, uma nova viagem, eu quero pedir que a gente nunca diga adeus um pro outro, mas que a gente não se sinta tão e sempre na obrigação de ser o que não podemos.
terça-feira, 15 de novembro de 2011
Não solte a minha mão
"Eu adoro o gosto da sua boca": sim, foi esse o pensamento que levei comigo do momento em que nossas línguas se encontraram até você me deixar no ponto de ônibus no dia seguinte. Fechava os olhos e conseguia lembrar exatamente o gosto do cheiro ou o cheiro do gosto, não sei. Sei que fica cada vez mais difícil ir contra a maré de sorte que me leva até nós.
quinta-feira, 10 de novembro de 2011
Carta pra minha filha
segunda-feira, 7 de novembro de 2011
Espelhos.
Fico aqui submersa na insônia pensando no que vocês pensam antes de fechar os olhos. Dá uma dorzinha quando páro e me vejo em vocês. Mas não é uma dor comum, dessas que a gente tem de arrependimento por ter feito algo que deixamos de fazer, não, essa dor é a de querer cuidar e polpar vocês de qualquer mal que possa acontecer, de qualquer besteira que eu tenha feito e vocês possam vir a repetir.
Arco-Íris
quarta-feira, 2 de novembro de 2011
A irmã mais velha.
terça-feira, 1 de novembro de 2011
futuro
sábado, 22 de outubro de 2011
Irmão
terça-feira, 18 de outubro de 2011
Bordada de flor
Bordados e bordéis, flores estampadas no semblante com sorrisos derretidos feito açúcar em chuva de verão. Tira-me de órbita, perco o senso, basta um toque pra que tudo desabe e meu tormento acabe: é quando encontro seu abraço dentro do meu e sinto o contorno de seus seios na minha barriga e a paz que a canção toca no rádio. Cabelos loiros se misturando no rebolar de almas e no entranhar de vidas revividas com tantas idas, vindas e além, idas sem vindas. Penso que posso passar o dia pensando no mesmo tom de olhares e textura de pele e me dou conta que já o faço há dias, e melhor, percorro com a língua cada parte do seu ventre molhado enquanto estática me aperta contra si com gemidos macios e gritos silenciados, beijo-te cada parte do corpo e perco um grande tempo nas costas que é onde encontro leito pro meu sono tardio, quando acabo, exalo cheiro de sonho e te lembro fazendo cafuné até que eu finalmente durma e não te tenha mais perturbando meus pensamentos. Acordo no meio da madrugada num pulo sentindo já a falta sua, me deparo com pés, braços e pernas perdidos um dentro do outro e nesse instante minha coxa coça e eu não sei onde ela está e muito menos onde tenho unhas para coçá-la. Jurei a vida inteira não poder conviver com coceiras, mas hoje vejo que não consigo de fato conviver com a culpa de estragar seu sonho por uma sensação boba, olhos cerrados, boca entreaberta, distinguindo quem é quem, sua mão esquerda no meu coração enquanto a direita agarra minha nuca, deve ser assolada pelo medo que eu vá embora assim como eu temo isso de ti, pernas entre as minhas e quando se mexe, causa arrepios da nuca ao dedão, vontade de começar tudo de novo, mas esqueço e te aperto ainda mais contra mim sem coragem de te acordar, estranho como mesmo de olhos fechados ainda vejo flores brotando em você e a alma inflando por tanta energia absorvida em simplicidade. Juro nunca mais te deixar ir, nunca mais te soltar, nunca mais tentar fugir e de olhos fechados tenho-me calados os sentimentos com um beijo teu que cheira a mau-hálito matinal e coração perfumado pelo tanto de vida que você tem, derreto o gelo e deixo mostras apenas o meu coração que você já possui, entrelaço meus dedos nos seus pra que a paz volte pro meu pulmão, pra que eu respire em paz, pra que nós continuemos sendo a paz que sempre persegui.
segunda-feira, 17 de outubro de 2011
E...
quinta-feira, 13 de outubro de 2011
Bordada de flor
Outro dia veio me perguntar da minha frieza, distanciamento e suposta indiferença. Eu desconversei, como sempre e achei estranho alguém esperar que eu respondesse assim, de supetão, sinceramente, de uma coisa tão íntima e abstrata. “Impressão sua”, menti. Acho que acreditou.
Mas ela não sabe que passei o resto da noite pensando no seu jeito leve de falar e na flor que sempre imagino presa no seu cabelo a cada vez que penso nela. É guria, você mexeu comigo. Não admito, claro que não, sempre tive medo de estragar o óbvio, o inexistente, prefiro manter amizades superficiais a ser levada pela intensidade. “Ela é mulher demais pra mim”, penso quando ela entra na sala de aula de salto alto e batom vermelho enquanto eu visto camisa de malha e chinelo de dedo. Mulher demais pra mim quando faz algum comentário tão pertinente ao que ouve que me assusta com sua astúcia, quando sorri inclinando a cabeça pra trás ou quando me chama pra perto de si com tanta certeza, me assustando ainda mais porque as minhas certezas são tão falhas que eu posso me arrepender amanhã de cada palavra escrita hoje.
Ela não sabe, mas me pego madrugadas adentro com o celular na mão e o número dela escolhido na agenda, só tenho que apertar a tecla verde “chamar” e pedir que ela venha ao me encontro. Não o faço, sempre deixo pra lá, sempre levanto da cama e coloco o celular na beira da janela longe da minha cama e volto a dormir pensando em seu novo corte de cabelo. Ela não sabe, mas eu sonho com ela algumas noites e tenho vontade de fazer um bilhete percorrendo todas as mãos da sala de aula elogiando a lingerie vermelha que ela vestida no meu sonho ou o abraço que ela me deu enquanto eu chorava de dor. Ela não sabe, mas é a primeira na minha lista de experiências e possíveis tentativas que eu fiz ou faria.
Outro dia ela veio me perguntar da minha frieza, distanciamento e suposta indiferença e eu tive vontade de beijá-la e assim explicar isso tudo sem pronunciar palavra, “impressão sua” , impressão sua.
quarta-feira, 12 de outubro de 2011
engolir
sobre sorrisos e desvios
Não ligo se você não sabe o que eu realmente quero, visto que eu também deixei de saber o que realmente quero quando te vi cruzando o olhar com o meu no meio da multidão barulhenta de fim de festa no começo da faculdade. Trocamos esbarrões no braço e a “desculpa” mais cínica que já disse e só isso foi mais que o suficiente pra que eu passasse a noite pensando em como seria o primeiro almoço em família quando nossos pais se conhecessem pra aprovar nosso noivado. E nem venha me dizer que mulheres são todas assim, eu nunca fui, pelo contrário, eu fui aquela que nunca fiquei pra ver no que ia dar.
Quando meu celular apitou pela primeira vez e seu nome apareceu no visor, tive vontade de engolir o aparelho e jogá-lo longe ao mesmo tempo. Deus, não vai me dizer que você está fazendo finalmente as coisas darem certo? Mal acreditei em palavras escritas em madrugadas bêbadas, manhãs sonolentas ou tardes embriagadas por café e livros, mal acreditei em jantares românticos, beijos encaixando, a suavidade do seus dedos frios pelo meu corpo quente. Era o final feliz que eu sempre julguei merecer.
Aí você estragou tudo. Como todo bom canalha, fez cada qualidade sua sumir com um ato impensado e eu quis morrer e sei que só não o fiz com minhas próprias mãos porque eu queria te fazer sofrer antes. Sim, mulheres são assim: amam e odeiam no mesmo dia, na mesma intensidade e com os mesmos planos, cuidado com elas, cuidado com um coração partido depois de finalmente voltar a acreditar na sinceridade de um “você é linda”.
Essa noite perdi o sono e fiquei pensando no quanto eu odeio você. E cheguei a brilhante conclusão de que eu odeio você porque você faz comigo exatamente o que eu sempre fiz com os outros, porque por mais que eu tenta te prender você escapa por entre os meus dedos feito água quando fechamos a mão. E eu te odiei tanto, mas tanto, que deixei de odiar você, eu te perdoei por cada lágrima que derramei sem que você nunca ficasse sabendo e conclui que se eu não quero mais que você triture meu coração e coma no seu próximo churrasco de turma, eu devo te falar de mim. Devo te contar dos tantos caras que gostariam de ser você e no quanto eu imagino o que você faz pra me prender tanto sem me tocar, o que você faz pra sorrir desse jeito, pra arrepiar da pontinha do meu pé até cada fio de cabelo só com o roçar da barba no meu pescoço, o que você faz? O que eu faço com tudo isso que você despertou em mim e agora eu não sei onde jogar? Eu não ligo de você não saber o que eu quero desde que mesmo sem declarar, você queira o mesmo que eu. Desde que no momento em que eu cometer a loucura de te dizer dessa coisa tão antiquada hoje em dia: sentir, você me beije e diga que sentiu minha falta a vida inteira, a mesma que eu senti de você.
terça-feira, 11 de outubro de 2011
Estrelas
As coisas estão andando. Eu só queria que andassem algumas mais rapidas e outras mais lentas. Queria que pudéssemos andar um pouco e conversar, só jogar conversa fora mesmo sabe? Sem flertes, bebidas e tantas piadas. Só eu e você dividindo mais segredos, rindo um pouco e depois cada um para seu canto como se tivesse sido horas de férias. Férias dessa nossa vida longe, férias do tempo que passa e não nos leva pra lugar nenhum, não nos acrescenta nada que faça palpitar nosso coração. Eu queria que pudéssemos engolir nossa presença, nossa vergonha, nossa felicidade compartilhada, hoje, eu queria qualquer coisa que não fosse o sono que me fecha os olhos e a saudade que me aperta o peito.
(texto de Smurf, com pequenas adaptações)